Do Blog Folha.com
Faltavam 10 minutos para meia-noite dessa segunda-feira(15), quando dezenas de pessoas – homens, mulheres e até crianças- dormiam espalhados pela calçada e na Praça do bairro Centenário, em Juazeiro(BA), onde fica a ‘Casa Bolsa Família’, órgão ligado à SEIASC- Secretaria de Igualdade, Assistência Social e Cultura.
São beneficiários do Bolsa Família, que têm passados noites ao relento para conseguir fazer o recadastramento e não ter o benefício suspenso.
O recadastramento é obrigatório para quem não atualizou os dados há mais de dois anos ou teve alguma alteração no cadastro, a exemplo de mudança de endereço, de escola ou renda.
Jadna dos Santos mora no bairro Tabuleiro e é a terceira pessoa da fila que deve ser atendida na manhã desta terça-feira(17).
Ela chegou à Casa do Bolsa Família, núcleo da SEIASC, na Praça do Centenário, às 3 h da madrugada do domingo(15) para segunda-feira(16). Passou todo o dia da segunda-feira no órgão.
Jadna diz que deixou três crianças em casa com o pai que, segundo ela, é portador de necessidades especiais, para garantir o atendimento.
A maioria chegou às 9 horas da manhã dessa segunda feira (16), para tentar atendimento na manhã do dia seguinte. Os que chegaram à tarde, não têm certeza de que conseguirão.
“Sem dormir, não consegue atendimento, porque tem que vir aqui durante muitos dias. Mas a gente trabalha, tem filho pra cuidar; então, não dá pra estar aqui todos os dias”, afirma Luzinete da Silva, que veio do bairro João Paulo II.
Os beneficiários afirmaram que são entregues 100 fichas por dia; destas, 20 são prioritárias para grávidas, mães com filhos pequenos e para idosos.
Agnaldo Cardoso está pernoitando na Praça pela segunda noite consecutiva. A esposa está grávida de 8 meses, e ele diz que tem chegado às 18 horas para tentar atendimento no dia seguinte.
“É minha segunda noite dormindo aqui, no banco desta praça. Trabalho o dia inteiro e venho para cá às 18 horas. Não sei se vou conseguir ser atendido, mas vou tentar novamente”, relatou.
Ele diz que, quando o atendimento era feito com a organização do último número do cartão, não era preciso tanto sacrifício.
Outros beneficiários informaram,ainda, que, em princípio, o plano era a descentralização do atendimento, que deveria acontecer na sede do Cras - Centro de Referência de Assistência Social- nos bairros, mas segundo eles, os centros não têm funcionado, e as fichas feitas nos locais, há alguns meses, acabaram se perdendo.
“A gente é humilhado aqui de todo jeito. Os moradores aqui da rua já disseram que vão fazer abaixo-assinado pra impedir que as filas aconteçam aqui pelas madrugadas. E ainda somos humilhados pelas atendentes. Quando começam o atendimento de manhã cedo, a atendente grita com a gente na maior humilhação. Parece que está tratando cachorro, aos gritos”, afirmou Adilma Ferreira, que diz aguentar as “humilhações”, porque precisa dos R$ 190 que recebe por mês do Bolsa Família.
Outra reclamação diz respeito às informações dadas pelos funcionários da SEIASC.
“Um diz pra gente que o recadastramento é só até o final deste mês. Outro diz que é até dezembro, todo dia é uma coisa diferente”, reclamou Adilma.
Como o pessoal da Secretaria não trabalha à meia-noite, somente de segunda-feira à quinta-feira, até as 17h, não foi possível falar com o responsável pelo órgão.
A SEIASC foi coordenada pelo vereador licenciado Crisóstomo Lima(Zó) até quinze dias atrás. Agora, encontra-se sem secretário; apenas sob ação dos gerentes de setor.
De acordo com o Portal da Transparência, o SEIASC gerenciou, em 2011, quase R$ 35 milhões do programa Bolsa Família. Com um montante desse de verba em um só programa, talvez fosse o caso de os donos do dinheiro serem mais bem tratados pela Secretaria

Fonte: blogfolha.com
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